quinta-feira, 16 de abril de 2015

Adeus

Ontem, eu me despedi da você.
Foi assim, sem nem perceber... Você me correu o pensamento, no exato momento em que eu rezava.
É que todos os dias, antes de dormir, eu rezo, e ontem como você visitou meus pensamentos, eu pedi a Deus que acolhesse sua alma.
Mas não foi o fim. Após a oração, fui bombardeada por minhas lembranças de infância e sua presença nas cenas de que me lembrava.
Eu chorei... Chorei como criança, soluçando. Chorei tudo que não havia chorado nesses quase três meses desde a sua partida. E parece que todo aquele vazio de antes fora "esvaziado" agora. Todo aquele nada que sentia, morreu ontem.
Nada mudou! Nossa relação continuará marcada por inconstâncias e  talvez eu sempre tenha comigo a lembrança de uma relação complicada com você. E foi! É bom que não mintamos, você me conhece o suficiente pra saber que minhas palavras não são um sensacionalismo barato, sabe que se as dirijo a você ( a quem nunca pensei escrever aqui) com verdade do que sinto agora.
Faz tempo, que meu coração vem ensaiando esse Adeus que nuca lhe disse. Outro dia, lembrei de você quando fui tentar fazer um doce de leite em pó que fica meio queimadinho na frigideira... Vi você fazê- lo muitas vezes e matar aquela vontade incontrolável de doce que dá de vez em quando. Meu doce deu errado! Saiba que não aprendi a fazê-lo perfeitamente. Talvez ela seja uma habilidade só sua, não sei... Talvez.
E ontem, eu me lembrei de vários outros momentos. Lembrei das novenas e terços nas casas dos vizinhos em que eu ia pendurada a você. Lembrei dos jogos de futebol na rua, enquanto você estava sentada no banquinho, na calçada. Lembrei da simpatia na copa de 94 em que a gente amarrava as pontas da toalha de mesa, rsrsrsrs. Funcionou! Ganhamos aquela copa. Lembrei das noites de domingo em que assistíamos ao Silvio Santos, naquele programa que eu adorava "Em nome do Amor".
Eu não sei bem o que senti. Não sei se foi saudade da menina doce e sonhadora que eu era ou dá relação ainda não conflituosa contigo. Talvez fosse só saudade que eu jamais assumiria ter. . E estranhamente toda a mágoa e ressentimento que um dia já fizeram parte de mim em relação a você, partiram. Sinceramente, não estão mais aqui. Sem que eu percebesse, deixei passar, relevei toda dor ou decepção que me causou, quem sabe seja a consciência lembrando que também não fui tão perfeita. Pode ser, também, a aceitação de que sua história com minha mãe é sua e dela e não nossa.
Naturalmente, ao meu modo, no meu tempo, perdoei e deixei- me perdoar, sem falsidade, de coração aberto. Ontem revivi cada lembrança boa que tive com você (porque sabemos que elas existiram) e não consegui dar mais espaço às más lembranças. Era como se cada lágrima as limpasse, as varresse para fora de mim.
Guardarei a relação de respeito que se criou nos últimos anos, ainda que pra isso fosse necessária a distância. Guardarei sua risada engraçada e a imagem que eu tinha de você quando criança. Aliás, combinemos que quando olhar pra trás seja com os olhos daquela criança que eu fui. Tão inocentemente sonhadora!
E por fim, na noite de ontem, fiz algo lhe devia. Despedi-me. Fechei os olhos e voltei aquela sala outra vez. Estávamos a sós. Só eu e Tu, ninguém mais. Era como se tivesse chegado mais cedo e então adentrei a sala passando pela coroa de flores, aproximei- me de você e beijei sua fronte. E disse baixinho, como quem conta um segredo:
- Vá em Paz. Vá com Deus. Adeus.


quinta-feira, 9 de abril de 2015

Carta para JulietAS

Há quem ame os contos de fadas! Há quem acredite neles... Há quem nunca engoliu um "felizes para sempre". 
Toda boa história me fascina, seja ela fantasiosa ou não. Eu reconheço que nos contos há tanto deslumbre que seria um perigo enxergar a vida nesta ótica. Nem tudo é assim "um conto de fadas", me diria um amigo, e talvez emendasse: "Não existe felizes para sempre!" Ele tem razão! Mas sinceramente, não entendo essa bronca que as pessoas "realistas" tem com a frase final dos contos. Meu bem, Se eles foram felizes ao menos um ano, ou um mês, ou um dia, ou um instante que seja, pelo menos tiveram a oportunidade de viver isso. E o foram na eternidade do que sentiram mutuamente.
Não! Não é a frase final dos contos de fadas que me incomoda. O que sempre me deixou desconfortável foi o desfecho da trama Shakespeariana de Romeu e Julieta. É a proibição, a angústia, o desencontro, a fatalidade, a morte... Toda a história do que podia ser mas não foi, do que não pôde ser vivido, nem que fosse só por mais um ano ou seis meses, ou sei lá quanto tempo. Essa bruta interrupção do amor simplesmente pela visão limitada de duas famílias. Que viagem! O século em questão era o XVI. Hoje em dia nem tem mais isso... Ou tem??
Tem! Tem os Montecchios, os Capuletos, os Silva, os Souza, os Amorins, os Fernandes, os Moreiras, os Santos, os Anjos e o maior sobrenome do Brasil "a tradicional família brasileira".
E se... E se não tivesse Romeu? Se não tivesse Romeu não teria Romance! Por que não? Porque não são os valores e as convicções da nossa tradicional família brasileira.
Pois bem, a justificativa acima nunca me convenceu assim como nunca me conformei com a briga sem sentido dos Montecchios e dos Capuletos. 
Conheço um casal. Não há Romeu. Só tem Julietas! Conheço duas Julietas que se amam como os personagens de Shakespeare, mas elas são reais. De carne, de osso e de corações apaixonados. E é lindo quando duas pessoas apaixonantes se apaixonam! Ok. Eu shippo o casal! Me julguem! Rs.
 Elas são lindas, decididas e minhas amigas. Me preocupo com o bem estar das duas e por isso as quero vivendo esse sentimento, de verdade. Eu tenho medo do que as pessoas más possam fazer com elas, tenho medo de intolerância e violência gratuita. Mas sabe o que eu mais temo? Temo que cada uma tenha que engolir o seu sentimento e sacrificar a felicidade pra fazer feliz aqueles que as querem felizes... Dá pra entender? Eu sei é complicado! Eu reconheço que cada qual tem seu limite de aceitação, de compreensão e de apoio. Mas meus caros, elas também tem seus limites!
Peço perdão pela intromissão na vida de vocês. No entanto, eu preciso dizer... 
Desejo que nós possamos entender que não se trata de nós, mas de vocês. Desejo que a gente reconheça valores acima do que nos diz o senso comum e a tão aclamada família brasileira, que certamente é tão hipócrita como as famílias do século XVI. A gente julga e fala de amor com falta de amor na ponta da língua. E também nos preocupamos demais com o que os outros pensam e de menos com o que os outros sentem. A gente, não quer ver ninguém magoado no fim dessa relação, mas tudo bem se a gente magoa alguém durante. Meu pensamento não é melhor que o de ninguém, porém, por favor, peço respeito. Eu não estou com a família tradicional brasileira e seus valores rasos. Eu estou com o que eu acredito, com o que vejo e com o que admiro. São duas mulheres, maiores, lindas, inteligentes, apaixonadas e cor-res-pon-di-das. Eu vejo duas Julietas de corações incríveis, de personalidade e caráter genuínos. Bem como é genuíno o sentimento que nutrem uma por outra. Se elas serão felizes a vida toda eu não sei, mas se quiserem tentar por toda vida, que tentem! Que vivam! Sem as interrupções de quem não aceita e nem precisa! Eu desejo a eternidade de cada momento vivido junto, seja ele no lapso de tempo que for! Desejo que cada uma possa sempre ser o motivo do brilho nos olhos da outra, brilho esse que vocês andam carregando por esses dias. E se... 
E se nesse percurso vocês se desencontrarem ou se machucarem e houver um final, eu vou fazer o que todos os bons amigos fazem, emprestarei meu colo e meus ouvidos a qualquer uma das duas. E direi com a sabedoria dos meus relacionamentos frustrados, que se decepcionar, ou se magoar em relações faz parte da vida. É necessário. E é o que nos faz crescer quando aprendemos a lidar com maturidade com questão afetiva. E direi que qualquer uma de vocês superará isso, porque sei quem são vocês e a força que vocês Têm. Digo isso como que por via das dúvidas, porque na real não acho que isso vá acontecer.
Acredito no amor de vocês, mesmo sabendo que não precisam de minha crença. Deixai- me ser seu "Frei Lawrence" e admirá-las com o coração de pessoa humana que reconhece dignidade em toda e qualquer forma de amar! 
Que haja um dia em que o amor sempre vença, Julietas! E ele há de vencer!